23 dezembro 2006

Pensar nos Outros

Desfavorecidos

Edição Jleiria 1171, de 21/12/2006

Há cerca de 200 crianças e adolescentes recolhidos em instituições com vocação social na região, das milhares existentes no país. Crianças que são retiradas aos pais pelos tribunais, que não os consideram capazes de dar uma vida digna e equilibrada. Passa então essa responsabilidade para o Estado, que confia nas diversas instituições de acolhimento existentes no país, umas ligadas a entidades de carácter religioso, outras geridas directamente pela Segurança Social, mas sempre por ela reconhecidas e financiadas. O que se vai percebendo, pelos casos como o da Casa Pia ou da morte do "travesti" no Porto, bem como por declarações de vários responsáveis por instituições desse género, é que também aí não são oferecidas as melhores condições para tornar as crianças e jovens que as frequentam bem integradas socialmente, em condições de crescerem e se desenvolverem para não continuarem a ser um problema para a sociedade e para o país, que somos, afinal, todos nós. O Estado, quando assume a guarda e o acompanhamento de uma criança que vem de um meio problemático, com todas as cicatrizes emocionais e psíquicas que normalmente isso provoca, fica com uma grande responsabilidade. São crianças e jovens, carentes e desprotegidas que a sorte não bafejou, marcadas com a falta de referências e valores que uma educação e um acompanhamento mais atentos podiam transmitir. Juntando várias dezenas de menores com estas características na mesma instituição, sem um forte apoio a todos os níveis, será previsível que, parte deles, passem mais tarde a encontrar caminhos fáceis de marginalidade. Não é concebível que instituições com tão grande responsabilidade, não tenham todos os meios humanos necessários, desde apoio médico a psicológico, passando pelo acompanhamento nos estudos e, principalmente, no dia-a-dia, e se vejam obrigadas a recorrer à intermitente solidariedade de cada um e da comunidade, cada vez mais individualista e até mercantilista, para garantir os bens mais básicos como alimentos, vestuário e outros meios essenciais ao estudo e ao conhecimento. Como afirma na reportagem Acácio Conde, tesoureiro da Casa da Criança do Olival, "por maior que seja o investimento feito para recuperar estas crianças, é pouco comparado com o prejuízo que podem vir a causar".
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